Sociedade Canina
 
Mogi das Cruzes possui 90 mil cães, 60% deles são domiciliados, enquanto os outros 40% vivem nas ruas da cidade
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Cachorro dorme em ponto de ônibus de Mogi das Cruzes
Por Samira Hidalgo

As diferenças sociais não estão presentes apenas na sociedade humana, mas também dentro da sociedade canina. Enquanto o cachorro de pelo escuro recebe um: “Passa!” ao se aproximar de alguém que come um pastel na Praça Oswaldo Cruz, no centro de Mogi das Cruzes, outro cão é tratado como um membro familiar em algum pet shop. O causador dessa diferença gritante é apenas um: o ser humano.


Membro da família

O ambiente é típico de um salão de beleza. Secadores enchem o espaço com um barulho estridente, em outra sala um banho terapêutico para relaxar, depois, quem sabe, fazer as unhas. Vem então a surpresa: trata-se de uma loja de produtos e tratamentos estéticos para animais de estimação.

Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN), foram gastos, em 2008, aproximadamente R$300 milhões em produtos para animais domésticos no Brasil. Consequente ao crescimento do mercado da estética animal surge a preocupação com a saúde dos cães e também dos donos, que desenvolvem um vínculo familiar com os animais.

Para a psicóloga e também professora da Universidade de Mogi das Cruzes, Vera Socci, ter um vínculo com o animal de estimação é um ponto positivo, entretanto, é necessário que o bichinho não se torne uma dependência. “Caso desenvolva dependência pelo cão, é provável que outro fator relacionado à vida da pessoa esteja por trás disso, o que podemos considerar um sintoma”, explica.

Com a dependência pelo animal, o dono passa, sem perceber, a criar hábitos humanos para o cachorro. “Não podemos querer transformar o cachorro em ser humano, porque o cão é muito mais feliz como cão. Quem ama respeita a individualidade do outro”, afirma Vera.


Outro lado da moeda

Enquanto 60% dos 90 mil cães em Mogi das Cruzes possuem um lar, outros 35 mil fazem parte da porcentagem de 40% dos cachorros que são semi-domiciliados ou abandonados, segundo dados de pesquisa realizada em 2008 pelo Instituto Pasteur.

Em média, o Centro de Controle de Zoonoses de Mogi abriga 60 cães, porém o número de entrada e saída dos animais é variável. Por mês a instituição adota 13 cães, mas o número de cachorros que recebem a eutanásia é muito maior, chegando a 120 casos por mês. Os animais sacrificados pelos veterinários do CCZ são aqueles com perfis declarados na Lei Feliciano Filho. Na lei, apenas os animais com doenças graves, incuráveis ou que ofereçam risco à saúde de outro animal ou ser humano deve ser sacrificado.

Existe ainda, dentro do CCZ de Mogi, a alta porcentagem de animais que são adotados, mas depois de algum tempo voltam para a instituição municipal. Segundo o veterinário da instituição, Carlos Vincentin, as devoluções pós adoção são comuns e somam até 60% dos casos. “As pessoas esperam que os cães se comportem como bichos de pelúcia, que não dêem trabalho”, opina.

Para o veterinário uma das soluções para que o número de cães abandonados diminua na cidade é a realização da castração. “O CCZ realiza cerca de 80 cirurgias de castração por semana, mas muitas pessoas não têm condições de trazer os animais até aqui”.

Além da castração, outra solução é vista para acabar com o problema dos cães de rua, a posse responsável. “É necessário que as pessoas se estruturem para ter um animal, enquanto não existir conscientização da população o número vai aumentar, é um ciclo vicioso”.

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